3 de abr. de 2012

1.CENÁRIO - ECONOMIA

1.1 Papel Moeda
A emissão de papel moeda por um governo baseia-se em duas premissas: que o governo (o emissor) é capaz de honrar a dívida representada pelo dinheiro, e que o mesmo não pode ser facilmente falsificado. Nos mundos cyberpunk, nenhuma dessas premissas é necessariamente verdadeira. Se o sistema monetário de um governo se quebrar, ou o governo honra seu dinheiro da melhor forma que puder (e neste caso o “valor de mercado” da moeda flutuará loucamente), ou as pessoas simplesmente param de aceitar o dinheiro sem valor e se voltam para as moedas “de valor” (ouro e prata) ou para notas emitidas por bancos privados confiáveis (espera-se).

O papel moeda é, de fato, muito mais difícil de ser falsificado em 2075— mas não impossível. Os governos usam tiras magnéticas, hologramas impressos, marcas d’água, impressão ultravioleta e outras fórmulas para manter o valor de seu dinheiro. Mas, à medida que os processos de manufatura se distanciarem das linhas de montagem estilo Henry Ford para a microfábricas, ficará mais fácil para as pessoas obterem a tecnologia de impressão que o governo utiliza. No fim, a falsificação e o aumento dos custos de impressão do dinheiro (governo deixarão de imprimir notas de valor unitário muito antes do custo para imprimir uma nota chegar à $1,00) forçam, cada vez mais, governos a deixar esta tarefa para os bancos particulares.

A desvantagem das notas de bancos privados, é que sua área de aceitação é limitada pelo tamanho do banco. Uma nota emitida pelo Citibank ou pelo Banco Sumitomo provavelmente serão aceitas em qualquer lugar; enquanto os bônus emitidos pelo Banco de Anajás, no Pará, poderão não ser aceitos em Belém ou São Paulo, e muito menos em Tóquio.

O governo de Nova Londres, não emite papel moeda fazendo o pagamento de seus funcionarios juntamente com suas transações financeiras exclusivamente em créditos de padrão internacional. O que pode ser um problema para aqueles que pretendem gastar esse dinheiro em certas áreas do círculo. O papel moeda circulante em sua maioria em nova Londres são expedidos pelos bancos: Sumitomo Mitsui (Junção varios bancos de investimentos japoneses), Governor and Company of the Bank of England (BoE) e o Australia and New Zealand Banking Group (ANZ).


1.2 Crédito Eletrônico
O crédito eletrônico é, de longe, o meio de troca mais utilizado no século 21. No caso de transações simples, bastará um simples cartão com tarja codificada ou uma senha numa rede de computador para identificar a pessoa e autorizar a transferência de fundos. Para transações maiores (provavelmente acima de $1.000) será exigida uma impressão digital, varredura de retina ou outras formas de identificação. Para as transações realmente grandes será preciso fazer um teste genético completo e uma verificação computadorizada de personalidade, para provar que os participantes são quem dizem ser. Testes com drogas ou detectores de mentira podem vir a ser exigidos para provar que os indivíduos envolvidos na transação não estão submetidos a qualquer forma de coerção. De forma geral, se um banco transferir dinheiro da conta de um correntista sem seu consentimento comprovável, poderá ter que repor o dinheiro com seu próprio capital. Por este motivo, os bancos serão muito cautelosos no caso de grandes transações, principalmente as fora do comum.

Os netrunners gastam boa parte do tempo procurando formas de burlar estas medidas de segurança. Podem por vezes falsificar a autorização do titular de uma conta em uma transação (nesse caso o cliente tem que provar que a autorização não era válida), e às vezes podem fazer com que o banco debite indevidamente a conta do cliente (nesse caso o banco tem que compensar). Em muitos casos, um bem é transferido para quem tenha os códigos de verificação apropriados — estes são os principais alvos de um hacker audacioso!

1.3 Corporações
As corporações desempenham um papel importante num mundo cyberpunk. Terão alcance mais amplo, e estarão submetidas a bem menos menos regulamentação por parte dos governos do que nos dias de hoje. A maior parte das corporações bem sucedidas tem uma função primária, e elas se esforçam por desempenhá-la da melhor forma possível. Podem contudo ter uma variedade de pequenas subsidiárias que fornecem uma série de produtos e serviços.

Além de suprir a corporação mãe, estas subsidiárias especializadas também servem como um meio para ingressar em vários setores da economia, para fornecer informações para a companhia mãe e ajudar no planejamento da empresa principal. Estas subsidiárias normalmente se harmonizam com a função geral da corporação, mas nem sempre. Por exemplo, um fabricante de automóveis poderia possuir refinarias de aço e de alumínio, minas de bauxita, uma empresa eletrônica, uma fábrica de pneus e cintos de segurança — e uma cadeia de lojas de discos, simplesmente porque o presidente gosta de música.

Espera-se no mínimo que as subsidiárias pertencentes à corporação não dêem prejuízo, se não serão vendidas ou fechadas. Além disso, se a corporação se tornar demasiadamente diversificada, ficará difícil de gerenciar e no melhor dos casos, algumas de suas subsidiárias terão que ser vendidas. No pior dos casos, desaparecerá ou será “engolida”. Isto dificilmente acontece com uma corporação bem gerenciada. Num vácuo de poder, os indivíduos, grupos ou organizações mais poderosos tendem a assumir o controle.

Em um ambiente do final do século 21 em que os governos estão em declínio, as corporações tornam-se a força social dominante, passando por cima, substituindo ou mesmo, como no caso do Nova Londres, substituindo governos e organizando o a sociedade de acordo com seus objetivos.

No entanto, os objetivos de uma corporação não são iguais aos do governo. Um governo deve (ao menos teoricamente) cuidar dos interesses dos cidadãos. As corporações são obrigadas apenas a cuidar dos interesses de seus “banqueiros”, isto é, das pessoas que apostam no sucesso da empresa — acionistas e debenturistas, clientes, fornecedores, empregados e gerentes. Isto não inclui a sociedade como um todo; em particular, não inclui os concorrentes e os pobres demais para serem seus clientes ou ter qualquer outro relacionamento com elas.

Numa corporocracia, ou sociedade dominada por corporações, este fato cria uma divisão clara entre os que têm e os que não têm, entre os que pertencem ao mundo corporativo e estão protegidos dentro dele, e os que estão trancados do lado de fora no frio e na escuridão. Para os de fora, as corporações parecem uma tirania oligárquica sem coração, esmagando tudo o que encontram em seu caminho. Para os que estão dentro, a corporação é um protetor e provedor que mantém do lado de fora dos portões a turba voraz.
Algumas corporações podem ter intenções generosas e farão doações a causas dignas, mas elas têm que se manter no negócio e dar lucro antes dar-se a esses luxos. À medida que o mundo se torna mais duro, as corporações se adaptam tornando-se também mais duras, por necessidade. Esta atitude “nós nos protegemos” é às vezes chamada de tecno-feudalismo. Da mesma maneira que o feudalismo, ela é uma reação a um ambiente caótico, uma promessa de serviço e lealdade por parte dos trabalhadores em troca de uma promessa de suporte e proteção da corporação. É semelhante ao conceito japonês de “emprego vitalício”.

Infelizmente, num mundo sem leis, as corporações podem se agrupar, formando quase que monopólios, em que todas podem maximizar os lucros reduzindo a escolha do consumidor, e tomando ou eliminando os concorrentes que tentam desafiar seus acordos. Isto ocorreu nos Estados Unidos no final do século 19, mas os governos de então foram capazes de reagir e forçar as companhias a quebrar esses acordos, fechando ou dividindo as recalcitrantes, se necessário. Em cyberpunk não existe um contrapeso desse tipo ao poder corporativo.

1.4 Trabalho e Rendimentos

Na maioria das áreas industriais ou pós-industriais no século 21 quase toda a população é composta por empregados, acionistas, ou pensionistas de uma mega-corporação ou de uma de suas subisidiárias ou fornecedores. Dentre os demais, muitos serão profissionais independentes ou pequenos comerciantes que estarão em bons termos com as megacorporações locais, fazendo parte de seu sistema econômico. O resto estará “de fora”, deixados a sobreviver como bem puderem.

Uma sociedade “industrial” é uma sociedade pós-agrícola. A porcentagem da população mundial envolvida com agricultura caiu dramaticamente no século 19, e no século 20 era da ordem de 5 % ou menos na maioria dos países do “primeiro mundo”. Uma sociedade de “informação” ou de “serviço” é uma sociedade pós-industrial; a porcentagem da população envolvida com a manufatura e industria de base não-agricultureira caiu para cerca de 25 % na América e em muitos países europeus por volta de 1990, e deverá cair para menos de 5 % no final do século 21, com o aumento do emprego de automação na indústria manufatureira e a diminuição da relevância que os produtos tem dentro do total de compras de cada indivíduo ou da sociedade como um todo.

Mesmo na sociedade de informação do século 21, muitos serviços serão parcial ou totalmente automatizados. A maioria dos serviços bancários, e boa parte do comércio varejista poderá ser feito através da Rede. A maioria dos empregos demandará principalmente trabalho criativo e/ou tomadas de decisão. As mega-corporações precisarão de batalhões de analistas de sistemas simplesmente para desenvolver e implantar sistemas de processamento de informação, e a partir daí regimentos de gerentes para agir de acordo com a informação fornecida por estes sistemas — decidindo que produtos são necessários, como eles deveriam ser manufaturados e comercializados, como o pessoal de dentro da corporação deve ser tratado, que incentivos ou penalidades devem ser implementados para maximizar a produtividade, e assim por diante. Estes são os responsáveis pelo trabalho pesado das megacorporações.

Alguns gerentes serão solucionadores de problemas circulantes cujos cargos poderiam ser descritos como: “Eis aqui o problema. Você pode gastar esta quantia com ele. Resolva-o e relate os resultados”. Estes são os tipos com os quais os PCs terão mais probalidade de interagir. Continuará existindo uma vasta economia infra-corporação: pequena manufaturas, fazendas, lojas, empresas de serviços, etc. É um tipo de “classe média baixa” — próxima do último degrau, mas ainda na escada. Eles praticarão um comércio intensivo com as corporações, mas não terão a segurança do ambiente corporativo. Por outro lado, terão uma certa liberdade que não é permitida ao trabalhador típico de uma corporação. Este conjunto de, pequenas empresas fonecerá mercadorias e serviços aos que estão totalmente fora dos círculos de poder e da proteção das corporações.

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